Saneamento básico precisa de R$ 508 bilhões para melhorar os serviços

Saneamento básico precisa de R$ 508 bilhões para melhorar os serviços

Entrevista: Marcelo Machado, presidente da Asfamas

O país tem um grande desafio pela frente, que é o de universalizar o saneamento básico, levando água e esgoto para milhares de pessoas. O Planasab — Plano Nacional de Saneamento Básico — mostra que o país terá de investir R$ 508 bilhões nos próximos 20 anos para resolver os serviços de saneamento, seja por meio de obras para captação e distribuição de água e esgoto ou pelos serviços de drenagem das águas de chuva.

Redação AECweb / e-Construmarket

Relatório elaborado pela ONU indica que cerca de sete milhões de brasileiros ainda não têm banheiro em suas residências. O Plano Nacional de Saneamento Básico, recentemente divulgado pela presidência da República, mostra ser necessário investimento de R$ 508 bilhões nos próximos 20 anos para resolver esse problema. Em entrevista ao portal AECweb, Marcelo Machado, presidente da Asfamas — Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento —, explica como o setor de materiais para saneamento pode trabalhar para superar esse desafio.

AECweb - Qual é o volume total de produção do setor de materiais para o saneamento representado pela Asfamas?

Marcelo Machado - Não é possível indicar o valor total, pois a entidade é composta por diferentes setores que apuram seus respectivos volumes em unidades diferentes (tonelada, litro, quilômetro, unidade, entre outros). Desde 2006, a Asfamas apura mensalmente os dados do setor por meio do Índice de Saneamento Asfamas, cujos dados são compilados pela Fundação Instituto de Administração (FIA), entidade conveniada com a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Nesse estudo, o volume é a variação percentual da quantidade de vendas, apurada na unidade específica de cada produto. Este percentual é obtido dividindo-se o volume vendido durante o mês em estudo pelo volume vendido no mês anterior, considerando apenas as vendas feitas ao mercado interno e excluindo todos os cancelamentos e devoluções. De acordo com o último Índice publicado, podemos notar um expressivo crescimento dos volumes de produção.

AECweb - De quanto foi esse avanço?

Machado - Em 2013, apuramos crescimento de 38,70% do volume do setor e em abril de 2014 constatamos uma variação nos últimos 12 meses de 53,20%. Cabe ressaltar que esse crescimento é também reflexo de uma base histórica baixa, não sendo diretamente proporcional ao crescimento do faturamento do setor que, em 2013, apresentou valor bruto deflacionado de 11,76% e, em abril de 2014 - considerando a variação dos últimos 12 meses - foi de 18,05%.

AECweb - Segundo relatório da ONU, cerca de sete milhões de brasileiros não dispõem de banheiro em casa. Qual seria o percentual de crescimento do setor, caso essa população fosse integrada a esse bem universal?

Machado - O Brasil tem um grande desafio pela frente, que é o de universalizar o saneamento básico, levando água e esgoto para milhares de pessoas. O Planasab — Plano Nacional de Saneamento Básico — mostra que o país terá de investir R$ 508 bilhões nos próximos 20 anos para resolver os serviços de saneamento, seja por meio de obras para captação e distribuição de água e esgoto ou pelos serviços de drenagem das águas de chuva. Somente para água e esgoto serão necessários mais de R$ 300 bilhões.

AECweb - Qual é a avaliação que a Asfamas faz da evolução do saneamento básico no país, nos últimos 20 anos?

Machado - Para traçar a evolução do saneamento básico no Brasil, podemos fazer uma análise dos números do IBGE sobre as moradias com acesso a esgoto. Em 1940, o país tinha aproximadamente nove milhões de residências e apenas 13% delas estavam ligadas, direta ou indiretamente, à rede geral de coleta. Após 30 anos, o número de moradias havia praticamente dobrado, chegando a 17,6 milhões, mas o percentual de ligação à rede de esgoto era o mesmo. Já em 1980, verificou-se um grande salto nesse percentual, que chegou a 26%. Quando se considera a evolução desde 1980, nota-se um crescimento médio anual de 6,1% do número de domicílios ligados à rede. 

AECweb - E quais foram os avanços mais recentes?

Machado - Dados do SNIS — Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental — demonstram que os investimentos totais realizados no saneamento básico brasileiro cresceram. Em 1995, foram aplicados R$ 3,2 bilhões no setor, já em 2011, esse montante passou para R$ 9,2 bilhões. Mas a necessidade de investimento ainda é grande. Outro estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil e pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável revela que em 2011 o país ocupava a 112ª posição em um conjunto de 200 países no quesito saneamento básico. O Índice de Desenvolvimento do Saneamento atingiu 0,581, indicador abaixo de países ricos da América do Norte e da Europa, como também de algumas nações do norte da África, do Oriente Médio e da América Latina, onde a renda média é inferior a da população brasileira.

Nos três últimos anos, observamos em grandes capitais, especialmente São Paulo, que quase a totalidade dos lançamentos residenciais consideram a medição individual da água. A construção civil incorporou essa solução, entre outras tecnologias que promovem uso racional da água, como um importante desejo de seus clientes e valor agregado a seu produto. 

AECweb - Nesse período, qual foi o crescimento da indústria do setor?

Machado - A Asfamas não apura especificamente o setor de instalações prediais hidráulicas, porém, dados do Índice Abramat apontam que o mercado de materiais de construção, de maneira geral, apresentou em 2013 um crescimento das vendas de 3% em relação a 2012. Já o setor de saneamento mostrou melhor resultado com 11,76% de crescimento no faturamento deflacionado em 2013. O PAC 2 — Plano de Aceleração do Crescimento —, liderado pelo Governo Federal, contempla um investimento em saneamento básico importante para os próximos anos. Além disso, a privatização em curso de portos, aeroportos e ferrovias deve trazer investimentos consideráveis para o país, especialmente na área de infraestrutura. Nossa expectativa, diante dessa possibilidade, é bastante grande. 

AECweb - Os hidrômetros individuais já estão bem absorvidos pela construção civil?

Machado - Nos três últimos anos, observamos em grandes capitais, especialmente São Paulo, que quase a totalidade dos lançamentos residenciais consideram a medição individual da água. A construção civil incorporou essa solução, entre outras tecnologias que promovem uso racional da água, como um importante desejo de seus clientes e valor agregado a seu produto. A medição individual aplicada em grandes centros urbanos com alto índice de verticalização pode contribuir muito para a redução do desperdício. Destaco ainda a importância da manutenção da qualidade metrológica dos hidrômetros durante sua vida útil e a utilização de equipamentos regulamentados e aprovados pelo INMETRO.

AECweb - As normas técnicas para materiais e equipamentos de hidráulica e de saneamento estão atualizadas?

Machado - As normas técnicas são objetos de constante atualização, tanto que recentemente foram criados dois novos Comitês na ABNT como resultado do alinhamento e esforço de todos os elos do setor. São eles: ABNT/CB-177 — Comitê Brasileiro de Saneamento Básico; e o ABNT/ CB-178 — Comitê Brasileiro de Componentes de Sistemas Hidráulicos Prediais.

AECweb - A Asfamas coordena vários Programas Setoriais da Qualidade. De maneira geral, qual o status desses programas junto ao PBQP-H?

Machado - No âmbito do PBQP-H, a Asfamas coordena os seguintes Programas Setoriais da Qualidade (PSQs): PGQ-1 IP: Tubos e Conexões de PVC para Sistemas Hidráulicos Prediais; PGQ-1 IE: Tubulações de PVC para Infraestrutura; PGQ-4 LS: Louças Sanitárias para Sistemas Prediais; PGQ-4 RA: Reservatórios Poliolefínicos para Água Potável de volume nominal até 2000 litros (inclusive); PGQ-4 CH: Metais Sanitários; PGQ-4 AE: Aparelhos Economizadores de Água; PGQ-6 EL: Eletrodutos Plásticos para Sistemas Elétricos de Baixa Tensão em Edificações. Todos estão em pleno funcionamento, tendo trimestralmente seus relatórios setoriais emitidos e publicados no site da Asfamas e também no portal do Ministério das Cidades.

Colaborou para esta matéria

Marcelo Machado - Formado em Ciências Contábeis e Análise de Sistemas, pós-graduado em Marketing Estratégico pela UNIMEP e com MBA em Business Management, pela FGV, tem sua carreira profissional feita no Grupo Saint-Gobain, onde ingressou em 1985, como assistente de Produção. A partir de 2013, foi nomeado diretor Comercial & Marketing da Saint-Gobain

Canalização, tradicional fabricante de tubos e conexões de ferro fundido dúctil. Ocupa o cargo de presidente da Asfamas — Associação Brasileira dos Fabricantes de Materiais e Equipamentos para Saneamento.

Acessado em 17/06/2014

Fonte: AECweb, On line.